sábado, 30 de janeiro de 2010

Rítmos da Alma

Rítmos da Alma
*Emiele*

De música, embriaguei a alma... Exagerei na dose.
Não sinto enjôo nem repulsa.
E em minhas veias, apenas mais acelerado o sangue pulsa...
Embriaguei-me de sons dos mais variados tons.
Cambaleante e rítmica,
tristezas e solidão neste instante esqueço.
De sonhos povôo meu pensamento...
E minh'alma na fluidez musical, reabasteço.

Na sonoridade que ecoa pelo ar,
meu amor pela melodia suave se fortalece.
Manter fidelidade a este amor por ti, a mim prometo.
Ao êxtase me entrego em pleno enlevo...
Um poema escrevo...
E debruçada sobre notas musicais
adormeço o sono solitário dos imortais.

Acordo no dia que se segue e desta embriaguez
quero experimentar outra vez.
Mesmo em menores doses, me sinto mal...
Tonteio. É fatal e brutal o que na mente veio:
A música já não me serve de esteio.
Sou frágil e infeliz mortal.

Busco aquietar meu corpo e anestesiar a alma.
Dedilho musicalidade nas palavras...
Mas ao capturar imagens tuas,
transporto parte desta emoção sentida pro papel.
Sou arrebatada pela saudade...
Descubro-te um ser infiel.
Quanta crueldade!
Há veneno em tudo!
Sofre a poesia o amargor do fel.
Só eu sou a mim fiel... Minto.
Nem eu expresso verdadeiramente o que sinto.

Transporto-me para um lugar
onde tudo baila leve, livre, solto...
E de lá, juro que não mais volto.
Hei de viver tudo que no poema escrevi !
Se assim não for, de que valem
sonhos e esperanças acalentar
se não posso viver o que senti?

Belo Horizonte - 05/09/2004 - 14:00 horas.
Hora do habitual cochilo e relax...
Dedicada 'a música que me embriga, relaxa e adormece.

* * * * *

Quando escrevi o poema acima, havia passado horas inteiras
a ouvir músicas que meu muso me enviou gravadas no aparelho
MP3, modernidade da Europa, que não havia ainda chegado aqui.
Desconhecia o texto que foi a mim enviado pelo amigo Víctor Portela,
Por esta razão, envio para que leiam, pois vi que ando na direção certa.
Vivo embrigada da paixão que expresso nos poemas... É maravilhoso
este estado de embriaguês produtiva em que me encontro!

Eis o texto que recebi:

"Deve-se estar sempre bêbado. É a única questão.
Afim de não se sentir o fardo horrível do tempo,
que parte tuas espáduas e te dobra sobre a terra.
É preciso te embriagares sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude?
A teu gosto, mas embriaga-te.
E se alguma vez sobre os degraus de um palácio,
sobre a verde relva de uma vala, na sombria solidão
de teu quarto, tu te encontras com a embriaguez
já minorada ou finda, peça ao vento, à vaga, à estrela,
ao pássaro, ao relógio, a tudo aquilo que gira,
a tudo aquilo que voa, a tudo aquilo que canta,
a tudo aquilo que fala, a tudo aquilo que geme.
Pergunte que horas são. E o vento, a vaga, a estrela,
o pássaro, o relógio, te responderão:
É hora de se embriagar.Para não ser como os escravos
martirizados do tempo, embriaga-te. Embriaga-te sem cessar.
De vinho, de poesia ou de virtude.A teu gosto..."

(Charles Baudelaire)