quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Diálogo Impossível

Diálogo Impossível
*Emiele*

Para cada palavra embriagada dum bêbado,
Para cada ofensa baforenta,
um silêncio cambaleante... Quase mortal.
Presença irritante. Espírito ausente.
Presente o animal.

Um copo... Mais outro... E outro...
são esvaziados no ralo da pia, às escondidas
na tentativa de enganá-lo...
Ele já perdeu a lucidez e nem faz conta
de quantos copos foram esvaziados...
Vingança tola e aflita de mulher sofrida
que tenta amenizar sua agonia e solidão.
Ouve-se o abrir de mais outra garrafa...
E o som de quem saboreia boas goladas!

Pobre mulher! Ao ver que sua tentativa foi em vão
sente-se frustada na sua desdita,
e um grito ecoa forte dentro dum peito silencioso:
Seu nome é tormento, bebida maldita!

Para cada palavra bêbada uma lembrança torpe. Mórbida.
Descontentamento, humilhação e sofrimento se misturam
ao sabor deste tormento.
Para cada palavra embriagada de azedume
só a palavra d'outro bêbado como ungüento.
O sóbrio solitário quer companhia.
Quer ficar ao lado e quer distância.
E se cala na sua impotência.

Que companhia sem significância é a do bêbado no seu embriagar.
Ah, se eu pudesse, tudo faria para ajudar vencer este vício!
Mesmo sem fazer nada fico inconformada.
Deito e não durmo à procura duma poção mágica
que possa libertar pelo menos da minha lembrança
a imagem trágica do bêbado com ares de alucinado...
No sofá esparramado...
E no ar aquele terrível bafo.


Belo Horizonte, 02/04/2007 - 19:30 horas.
Poema dedicado a todas as pessoas que sofrem, vitimizadas,
por um ente querido, dominado pela doença do alcoolismo.