segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

AINDA BEM!

AINDA BEM!
*Emiele*

Acordo as 4:30 da manhã. Ainda faz noite.
A claridade adormece sob o manto dum céu sem estrelas.
A lua cheia ainda brilha redonda e branca.
A temperatura baixou um pouco.
Ontem fez um calor quase insuportável!
Nem um ventinho pra balançar minhas orquídeas de plástico,
na jarra de cristal, no criado mudo perto da janela.
Ainda bem que existe noite pra gente dormir e descansar,
recompor energias, pra nos sugar o dia.
Viram como o dia carrega problemas?
O dia é sempre carregado de coisas e acontecimentos!
O dia é noite que deixou de ser. É a noite que não assume nada.
Que só quer dormir... descansar... e esquecer.

O dia se faz, parindo a luz... Eu o vejo nascido quando pela fresta
da janela entra sua luminosidade acordando tudo.
Na noite tudo que é paz, silenciosamente adormece!
Dorme encolhido na gaiola, o sabiá.
Dormem colibris, canários, pintassilgos e bem-te-vis.
Dorme nesta primavera calorenta, a natureza florida
e poluída por gases fétidos.
Só não dorme a dor.
Não dorme a paixão nem o desamor.
Também não adormece nem cochila o ódio e o desejo de vingança,
num coração enrijecido, sem esperança.
Estes ficam bem despertos e fazem armadilhas traiçoeiras
na calada da noite.
Não adormece também a loucura. Esta, só com alta dose
de medicação.

Ainda bem que dentro de mim se faz dia e noite
pra recompor as energias que me sugam o dia.
Pra enganar a saudade que cochila.
Pra sonhar os sonhos que me rouba o dia.
Pra esquecer a dor que me atormenta de dia.
Pra adormecer este desejo que é meu açoite...
Pra acordar na poesia o despertar de um novo dia.
Ainda bem!


Belo Horizonte - 28/09/2004 - 4:40 horas.